sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Fujo... e procuro encontrar

Hoje… corri…,

Chego de viagem um pouco cansada…, foi tão rápida apesar de longa que nem dei pelo tempo, ao ritmo da música que entorpecia os meus sentidos, posso dizer que não cumpri os limites de velocidade…

Ainda fui a tempo de jantar com os meus pais, que vão de viagem, eu chego eles vão… Aumenta a minha sensação de vazio. Hoje queria por a cabeça no teu colo mãe… deixar cair a lágrima que consigo aguentar cá dentro desde que te vi, para que não vás preocupada… Hoje queria pousar a minha cabeça no teu colo mãe…, fechar os olhos e sentir as lágrimas a germinarem sem dares conta, mas assim estaria reconfortada… com a tua presença, mas sem te preocupar, hoje queria que pousasses a tua mão no meu cabelo e na minha cabeça… Sentir que estou segura.

Hoje sinto-me vazia…, mas em vez disso sorrio, enquanto sais com o pai para mais uma viagem até às vossas raízes…, sorrio, o meu melhor sorriso para vocês, enquanto o aperto no meu coração é grande… e contenho tal aperto que me dói até a garganta e engulo em seco…

Sento-me no sofá…, sinto cada parte do meu corpo contido, tenso… a rebentar em emoções e sentimentos que guardo para mim… Levanto-me visto as minhas calças, os meus ténis, a minha t-shirt e um pequeno casaco que não faço tenções de usar. Saio…, “hoje vou correr”, penso para mim…

Vou correr para fugir ou para encontrar…

Hoje vou apenas correr…, sei que não devia, não posso… mas vou, fui…

Corro,

Corro,

Corro…

Sinto o frio da noite a cortar-me o rosto, a entrar na minha pele e ao mesmo tempo sinto o meu corpo a amornar… a debater-se contra o frio que encontra e com a velocidade que lhe imponho.

Fujo, encontro,

Corro, mesmo… quase sem fôlego,

Sinto as lágrimas a caírem em cada face do meu rosto, vejo a minha t-shirt molhada por algumas das suas gotas. Vejo, sinto em cada uma delas um sentimento, uma emoção que me aprisiona, que me contém, que me dilacera, que dói … Porque choras tu coração?...

Sinto cada músculo do meu corpo a dar de si, a cada nova passada um sentimento…
Sinto o meu fôlego a acabar, a cada nova inspiração um sentimento…
Sinto-me o ser mais sozinho do mundo em busca e em fuga…

Sinto a pulsação real do meu coração na minha cabeça… sinto a dor física dele, sinto que está no seu limite… o meu último fôlego antes de parar…

Paro… respiro incessantemente… na procura do equilíbrio, ouço o bater do meu coração nos ouvidos… a transpiração que percorre a minha pele e baixo-me para recuperar todo o desgaste que lhe provoquei…
Levanto a cabeça ponho-me de pé, uma ligeira tontura entorpece-me…

Fecho os olhos e realmente sinto-me viva, sinto-me eu própria, sinto-me capaz de novo… de enfrentar as adversidades da vida… sinto que estar vivo realmente é por um fio… e que se correr assim de novo… será mesmo por um fio…

Ando em passos largos a distância contrária até casa, recupero o equilíbrio… físico e emocional…

Inspiro profundamente e sinto o ar frio que me envolve, visto o casaco, resguardo-me, ainda tenho muito para viver, para sorrir, para chorar… Sinto-me apta… a superar esse cansaço que me impões com as tuas batidas, mas eu vou vencer-te, vou tornar-te melhor, mais forte meu coração…

E para além da tua dor física, espero… acalmar as tuas emoções, mas dessas fujo… e procuro encontrar**

1 comentário:

Fábio Correia disse...

Sublime!Num post consegues que eu pense:

"This is the story of my life!!"

Filosofando um bocadinho também:

De corrida em corrida lá vou sabendo que a dor fisica do cansaço é facilmente superável, mas na outra corrida, de corrida em corrida lá vou sabendo que quando me ponho em fuga é a fugir daquilo que procurarei na próxima corrida!