quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Há momentos...


Há momentos que nos absorvem,
Momentos em que ficamos suspensos no tempo,
Num ápice ficamos sem o chão que pensávamos ser o mais seguro
De tudo aquilo que nos rodeia.
Tu eras o meu chão…
São momentos em que a dor nos toca em cada parte do corpo, em cada parte da alma, em cada parte do espírito…
Rasga-nos a pele como farpas que nos sangram por dentro e por fora,
Aperta-nos o peito como se de um enfarte se tratasse,
Ali no chão absortos…
Lágrimas caem como chuva…
Tocam-nos a pele que arrefece a dor dos rasgos na pele, limpam o sangue da dor do nosso espírito…
São assim aqueles momentos…
Aqueles momentos que nos suspendem no ar em que tudo cai bem lá no fundo,
E nós ali ficamos a ver tudo o que construímos naquele chão seguro a desaparecer em segundos
E nada conseguimos agarrar, se não a dor…
Existirá um nascimento… Mas há sempre dor mesmo num momento assim…
A mudança é isso mesmo a perda e o ganho, esperemos sempre para algo bem melhor…
São esses momentos que nos colocam tudo em causa, o que já vivemos, o que se vive no agora e como será no futuro…
São esses momentos os cruciais para desabarmos junto com o chão seguro
Ou permanecermos suspensos e mesmo cheios de dor… Construindo um chão ainda mais forte, sem falhas porque o amor se sobrepôs ao sismo da dor
Que ainda magoa…, mas vai desvanecendo
Quando dia a dia nos sentimos bem melhor do que antes…**

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Hello World

VOLTAR PARA CASA


Olá Mundo
Espero que esteja a ouvir
Perdoe-me se eu sou novo
Para falar de assim, sem volta
Existe alguém que eu tenho saudade
Eu penso que poderiam ser
A melhor parte de mim
Estão em seu próprio lugar tentando fazer a coisa certa
Mas estou cansado de justificações
Então eu digo-te...

[Refrão]
Volta para casa
Volta para casa
Porque eu estive à tua espera
Durante tanto tempo
Durante tanto tempo
E agora há uma guerra entre a vaidade
Mas tudo o que vejo és tu e eu
A luta por ti é tudo o que eu sempre conheci
Então volta para casa
Oooh

Eu estou perdido na beleza
De tudo o que eu vejo
O mundo não é assim tão mau
Como o pintam ser
Se todos os filhos
Se todas as filhas
Parassem para compreender isso
Se esperançosamente o ódio diminuísse, o amor poderia começar
Pode começar agora... Yeahh
Bem, talvez esteja apenas a sonhar alto
Até lá

[Refrão] Volta para casa
Volta para casa
Porque eu estive à tua espera
Durante tanto tempo
Durante tanto tempo
E agora há uma guerra entre a vaidade
Mas tudo o que vejo és tu e eu
A luta por ti é tudo o que eu sempre conheci
Então volta para casa
Oooh

Tudo o que eu não posso ser
É tudo o que tu deverias ser
E é por isso que eu preciso de ti aqui
Tudo o que eu não posso ser
É tudo o que tu deverias ser
E é por isso que eu preciso de ti aqui
Então ouve agora

[Refrão]
Volta para casa
Volta para casa
Porque eu estive à tua espera
Durante tanto tempo
Durante tanto tempo
E agora há uma guerra entre a vaidade
Mas tudo o que eu vejo és tu e eu
A luta por ti é tudo que eu sempre conheci
Sempre conheci
Então volta para casa
Volta para casa.
**

Palavras, acções


palavras que nos cortam por dentro,
Palavras que dilaceram
Cada pedaço do coração.
A dor é aguda e consome-nos.
Palavras que matam sentimentos nobres,
Palavras que ditas por alguém,
Alguém que faz parte de nós,
É injusto para com a nossa alma,
Golpeando-a.

Há palavras que nos reconfortam,
Palavras que nos acolhem em felicidade,
Que conseguem o bater suave do coração,
Que nos permitem inspirar fundo e sentir o calor do afecto
De quem as diz.
Palavras que consolidam sentimentos bem-nascidos
E nos aproximam de quem amamos.
Depois…,

acções
Acções que dizem mais que mil palavras,
Acções que complementam as palavras,
Acções que não existem porque as palavras são a acção…,
Palavras… acções…
Não sei se moram juntas ou separadas,
Mas têm
Capacidade de mudar o nosso interior emocional**

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Às vezes sinto-me cansada...


Às vezes sinto-me cansada…, não é fácil trabalhar como enfermeira num serviço de medicina, em que a média de idades dos doentes internados é acima dos 75 anos de idade e de certeza que pelo menos 80 % deles são dependentes para satisfazer as suas necessidades. Hoje em dia, quando chegamos ao serviço as nossas preocupações baseiam-se essencialmente em duas, quantas macas existem no corredor e quantos somos neste turno, seja enfermeiras ou auxiliares…

Nem damos por nós a perguntar se está tudo bem com o outro que é nosso colega de trabalho ou mesmo amigo, quando o olho no rosto… vejo o cansaço e o desespero de tentar conseguir “fazer” tudo… Claro que nunca se consegue fazer tudo, mas há sempre pequenas coisas que gostamos que fiquem prontas para não deixar mais trabalho para quem vem a seguir a nós…

Há dias que entro quase em desesperança…, há dias em que mal consigo estar com as famílias dos doentes, com sossego, dar-lhes a minha atenção… Há dias que podem pensar que sou antipática, porque mal os olhei nos olhos quando me perguntavam como estava o seu pai…, mas… não tive tempo. E peço desculpa…, peço desculpa em ter no mínimo 12 doentes, numa tarde, isto se não houver macas…, em que tenho de administrar toda a medicação sem erros e tenho que os ajudar a posicionar-se, ou fazer mesmo tudo por eles quando ficam inertes numa cama, por isso prefiro que pensem que sou antipática, em vez de levarem o vosso pai com uma “ferida” (ulcera de pressão) e não saberem o que fazer em casa e entrarem vocês em desespero depois…

Teria tempo para falar convosco se no meio destas duas pequenas grandes coisas, não entrassem três ou quatro doentes vindos do serviço de urgência, aos quais necessitamos de dar mais atenção e de começar a conhecê-los, se não existissem situações de urgência em doentes que pioram, isto se não atendêssemos telefones a toda hora, não tivéssemos que levar doentes a exames e tratar de burocracias…, porque nós afinal fazemos tudo e… ainda somos enfermeiros…

Há dias que as lágrimas me vêem aos olhos quando quatro ou cinco doentes me pedem as mais variadas coisas ao mesmo tempo e não consigo dar resposta, há dias que… sinto que não vejo nada feito, há dias que preciso de me sentar e respirar fundo e acreditar que… sou capaz…

Porque…, deixo de comer para mudar uma fralda a um doente ou dois,
Porque…, deixo de ir tantas vezes à casa de banho para dar um minuto de atenção a um doente…
Porque acredito que o fiz, porque queria… e não estou a cobrar ou que seja reconhecido esta minha, ou nossa, capacidade de deixarmos cuidar de nós para cuidarmos de vós… Apenas queria ter tempo para cuidar de mim e de vós com mais qualidade e não estar sempre a dizer já vou… ou andar de passo apressado de cá para lá…

Às vezes sento-me e olho o corredor cheio… com doentes em maca e pergunto-me… Se há pessoas que conhecem esta realidade, em que ouvimos gemidos de dor, em que ouvimos gritos de doentes agitados, em que ouvimos alguém a pedir sofregamente, em que existem pessoas que morrem no corredor… connosco ou na nossa passagem… não morrem sós, mas morrem como se de um descampado se tratasse, cheio, mas de gente desconhecida…

E ainda conseguimos chegar a casa dar um beijo aos nossos pais, sorrir e abraçar o namorado como se do último dia se tratasse…

Temos o maior sorriso do mundo, quando sorrimos…

Com pouco fazemos muito e sentimos que vamos todos os dias para uma batalha em que o principal é a qualidade de como cuidamos de seres iguais a nós.

No meio desse “descampado” essas pessoas doentes são capazes de mesmo assim nos dar um grande sorriso, sabendo que há sempre alguém em quem podem confiar… mesmo que nos conheçam há 5 minutos. E são estes sorrisos e são estes olhares ternos de quem já não consegue falar, em rostos que o tempo marcou, que me fazem esquecer que… às vezes sinto-me cansada**

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Quando é que esse espelho vai sorrir...

“Todos te querem bem
mas tu não, mas tu não
todos te querem também
mas tu não, mas tu não
eu vou estar aqui, vou estar aqui
para quando tu
não quiseres ouvir
vou estar aqui, por ti...

Quando não tens ninguém
eu estou cá, eu estou cá
e quero-te também
tu não vês, tu não vês
eu vou estar aqui, vou estar aqui
para quando tu, não quiseres ouvir
vou estar aqui, por ti

(Refrão)
Eu não quero
eu não quero, ver o mundo inteiro
pronto a esquecer que tem alguém
que não tem tratado bem

E quando me vejo ao espelho
e pergunto-me
quando é que esse espelho vai sorrir, porque

(Refrão)
Eu não quero
eu não quero, ver o mundo inteiro
pronto a esquecer que tem alguém
que não tem tratado bem

E quando me vejo ao espelho
e pergunto-me
quando é que esse espelho vai sorrir,

Pra mim, pra mim
e pergunto-me
quando é que esse espelho vai sorrir
para mim

(Refrão)
Eu não quero
eu não quero, ver o mundo inteiro
pronto a esquecer que tem alguém
que não tem tratado bem
e...

(Refrão)
Eu não quero
eu não quero, ver o mundo inteiro
pronto a esquecer que tem alguém
que não tem tratado bem

(Refrão)
Eu não quero
eu não quero, ver o mundo inteiro

(Refrão)
Eu não quero
eu não quero, ver o mundo inteiro
pronto a esquecer que tem alguém
que não tem tratado bem...”


… Porque existem músicas escritas para nós…**

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Areia fria

Pus os pés na areia fria e senti cada grão na minha pele… Uma sensação de frio invadiu o meu corpo, percorrendo-me com um arrepio… Um sentimento de bem-estar assolou-me rapidamente.

Desvio-me cautelosamente de pequenos fragmentos dos arbustos que rodeiam a praia e foram para aqui conduzidos pelo vento. Alcanço a beira mar… O vento corta o meu corpo com a sua força e traz consigo o frio do inicio da primavera…

Apesar das sensações gélidas com que luta o meu corpo, sorrio… Inspiro profundamente e sinto a fragrância que me rodeia… o mar…

Fico apenas pela areia molhada que já me faz contrair os músculos, afinal vim para um passeio…, mas tu não… Rapidamente, dás-me qualquer coisa para a mão afastas-te a correr… e um mergulho espontâneo, sem hesitações, sem medos, sem nada… um impulso…

E desapareces nas ondas do mar… e da mesma forma que submergiste, emergiste…

Recebo-te de novo com um sorriso… ainda bem que as pessoas são todas diferentes e ainda bem que nos deslumbramos com essas pequenas coisas que nos fazem diferentes… E são essas pequenas coisas diferentes ou semelhantes que nos fazem amar alguém…

Colocas a tua mão no meu ombro… Afasto-o espontaneamente pelo frio que me toca e que aquece o meu coração… Ainda me queixo um pouco, apesar de ter gostado…

Caminhamos, caminhamos apenas…

Falamos de sonhos, de futuro

Falamos de problemas, de presente

Falamos de alegria, de sorrisos espontâneos…

Sabe bem, estar aqui…
Sabe bem a tua presença que aquece o meu coração, apesar do frio que insiste em arrefecer o meu corpo…

Olho o horizonte e vejo uma tranquilidade que me inquieta… e me contagia…

Tranquiliza-me, sinto-me bem…

Inquieta-me, não sei o que está para lá dessa linha

Desvio-me cautelosamente de pequenos fragmentos dos arbustos que rodeiam a praia e foram para aqui conduzidos pelo vento. Alcanço o estacionamento…

E juntos caminham para o horizonte**

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Make you

Make You Feel My Love

"When the rain
Is blowing in your face
And the whole world
Is on your case
I could offer you
A warm embrace
To make you feel my love

When the evening shadows
And the stars appear
And there is no one there
To dry your tears
I could hold you
For a million years
To make you feel my love

I know you
Haven't made
Your mind up yet
But I would never
Do you wrong
I've known it
From the moment
That we met
No doubt in my mind
Where you belong

I'd go hungry
I'd go black and blue
I'd go crawling
Down the avenue
No, there's nothing
That I wouldn't do
To make you feel my love

The storms are raging
On the rolling sea
And on the highway of regret
Though winds of change
Are throwing wild and free
You ain't seen nothing
Like me yet

I could make you happy
Make your dreams come true
Nothing that I wouldn't do
Go to the ends
Of the Earth for you
To make you feel my love "


Adele

segunda-feira, 6 de abril de 2009

O mesmo caminho


Quem de nós não faz o mesmo caminho todos os dias…, uns para o trabalho, outros para a escola, outros ainda para casa. O caminho torna-se o mesmo, repetidamente dia após dia… Tudo igual, nada muda, sabemos de cor cada buraco na estrada onde nos desviamos automaticamente, algumas das pessoas que iremos encontrar, a cor das árvores, o lixo do chão, os expositores dos anúncios publicitários e mesmo estes quando mudam, são nos familiares de igual forma… afinal sempre lá estiveram, mas com outra publicação diferente…

Mas há um dia…, um dia diferente, um dia em que observamos o que nos rodeia com mais atenção, ou será que somos nós que acordamos com um novo olhar?

Um dia em que reparo que passo todos os dias por uma pequena casa amarela…, bonita, simples com um pequeno jardim frontal, acolhedora… Lá dentro no seu pequeno jardim, olho uma senhora já com alguma idade… os seus cabelos brancos e algumas marcas do tempo…, não me deixam ter dúvidas. O seu ar é agradável, afável, não é triste, é simples, transmite uma longa vida, mas com grandes rasgos de felicidade, uma lutadora?... Tento concluir o perfil da sua personalidade na minha cabeça…
E ao mesmo tempo dou por mim a magicar…, como não notei antes a presença desta pequena casa? Nem reparei nesta avó que ali está tranquila no seu jardim? Pensei por momentos… Será que sempre ali esteve? Mas como só hoje a vi?... Porquê hoje?

… Não sei… nem me importo muito tempo com isso… Gosto de a olhar, parece um pequeno grande nada no meio de tanta coisa que sabia de cor. Até os buracos na estrada no caminho que faço todos os dias consigo com que desvie o carro de forma automática. Hoje descubro algo novo e que me atiça um sorriso simples no canto da boca… Hoje no meio do conhecido, descobri algo ainda desconhecido… apesar de ver todos os dias, nunca tinha olhado…

O mesmo se passa na nossa vida… Tudo à nossa volta, as pessoas, os lugares, os cheiros, os tempos…, conseguimos fechar os olhos e desenhar na nossa mente cada pequeno pormenor… mas!… superficial. Quando damos por nós, damos conta de algo realmente especial que nos rodeia…, que nos estimula um sorriso simples, que nos faz pensar… Como nunca tínhamos olhado esta pessoa que sempre ali esteve?... Ali, ali sem darmos por ela…, mas hoje consigo olhar para ela de forma diferente e dizer… Que bom é ter esta pessoa aqui… o sentimento que me difunde… como é que nunca lhe dei o seu valor?

Onde estava a minha atenção? A direcção do meu olhar?

Nunca te foques… só e apenas onde queres chegar…,

Mesmo no caminho a percorrer abre… abre horizontes,

Olhares, sorrisos, franze as sobrancelhas…

Por onde passes, por onde olhes…

Encontra algo ainda mais e melhor… do que o sitio onde queres chegar e então?...

Muda de direcção, uma direcção ao sorriso …. Que pode ser mais e melhor que o destino que nos levou a sair de casa…**

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Fujo... e procuro encontrar

Hoje… corri…,

Chego de viagem um pouco cansada…, foi tão rápida apesar de longa que nem dei pelo tempo, ao ritmo da música que entorpecia os meus sentidos, posso dizer que não cumpri os limites de velocidade…

Ainda fui a tempo de jantar com os meus pais, que vão de viagem, eu chego eles vão… Aumenta a minha sensação de vazio. Hoje queria por a cabeça no teu colo mãe… deixar cair a lágrima que consigo aguentar cá dentro desde que te vi, para que não vás preocupada… Hoje queria pousar a minha cabeça no teu colo mãe…, fechar os olhos e sentir as lágrimas a germinarem sem dares conta, mas assim estaria reconfortada… com a tua presença, mas sem te preocupar, hoje queria que pousasses a tua mão no meu cabelo e na minha cabeça… Sentir que estou segura.

Hoje sinto-me vazia…, mas em vez disso sorrio, enquanto sais com o pai para mais uma viagem até às vossas raízes…, sorrio, o meu melhor sorriso para vocês, enquanto o aperto no meu coração é grande… e contenho tal aperto que me dói até a garganta e engulo em seco…

Sento-me no sofá…, sinto cada parte do meu corpo contido, tenso… a rebentar em emoções e sentimentos que guardo para mim… Levanto-me visto as minhas calças, os meus ténis, a minha t-shirt e um pequeno casaco que não faço tenções de usar. Saio…, “hoje vou correr”, penso para mim…

Vou correr para fugir ou para encontrar…

Hoje vou apenas correr…, sei que não devia, não posso… mas vou, fui…

Corro,

Corro,

Corro…

Sinto o frio da noite a cortar-me o rosto, a entrar na minha pele e ao mesmo tempo sinto o meu corpo a amornar… a debater-se contra o frio que encontra e com a velocidade que lhe imponho.

Fujo, encontro,

Corro, mesmo… quase sem fôlego,

Sinto as lágrimas a caírem em cada face do meu rosto, vejo a minha t-shirt molhada por algumas das suas gotas. Vejo, sinto em cada uma delas um sentimento, uma emoção que me aprisiona, que me contém, que me dilacera, que dói … Porque choras tu coração?...

Sinto cada músculo do meu corpo a dar de si, a cada nova passada um sentimento…
Sinto o meu fôlego a acabar, a cada nova inspiração um sentimento…
Sinto-me o ser mais sozinho do mundo em busca e em fuga…

Sinto a pulsação real do meu coração na minha cabeça… sinto a dor física dele, sinto que está no seu limite… o meu último fôlego antes de parar…

Paro… respiro incessantemente… na procura do equilíbrio, ouço o bater do meu coração nos ouvidos… a transpiração que percorre a minha pele e baixo-me para recuperar todo o desgaste que lhe provoquei…
Levanto a cabeça ponho-me de pé, uma ligeira tontura entorpece-me…

Fecho os olhos e realmente sinto-me viva, sinto-me eu própria, sinto-me capaz de novo… de enfrentar as adversidades da vida… sinto que estar vivo realmente é por um fio… e que se correr assim de novo… será mesmo por um fio…

Ando em passos largos a distância contrária até casa, recupero o equilíbrio… físico e emocional…

Inspiro profundamente e sinto o ar frio que me envolve, visto o casaco, resguardo-me, ainda tenho muito para viver, para sorrir, para chorar… Sinto-me apta… a superar esse cansaço que me impões com as tuas batidas, mas eu vou vencer-te, vou tornar-te melhor, mais forte meu coração…

E para além da tua dor física, espero… acalmar as tuas emoções, mas dessas fujo… e procuro encontrar**

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

És tu, o dono dele...

O tempo…

O que é o tempo se não o nosso reflexo?....
Há anos que parecem séculos,
Anos que parecem meses,
E há anos ainda que parecem dias…
Quando damos por eles já passaram! …
E mais uns traços no rosto se traçaram…

Há dias que parecem anos, que nunca mais acabam, que não têm fim…,
Há dias que parecem horas, horas que nos escapam por entre os dedos das mãos, sem as conseguirmos fechar…

Há horas que parecem dias,
E horas que parecem mais meias horas…

Que fazemos nós do nosso tempo? O que nos faz sentir o passar das horas pesadamente, os minutos, os segundos… Ou nem darmos por eles?

Que viveste nesse tempo?

Sorriste? Choraste?

Sentiste a felicidade a arrepiar-te o corpo, ou medo… que te paralisava?

Aproveitaste tudo sem deixar nada à tua volta, ou simplesmente estiveste parado à espera que algo se faça por ti?

O que é o tempo se não o que fazemos dele?

Se é longo ou um ápice… és tu que o sentes, és tu o dono dele… és tu que lhe dás o rumo, as suas horas, os seus minutos…. Os seus segundos maiores ou mais pequenos… és tu, o dono dele…**

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Como enfermeira,

Como enfermeira,
Já cuidei de pessoas de todos os estratos sociais, baixos, médios, médio altos e altos…

Uns não são mais que outros, são apenas pessoas e não mais que isso, igual a mim a ti…, tudo o que têm ficou lá fora do hospital. E cuido de igual forma da Senhora de 80 anos que vive só e numa casa com duas divisórias, como cuido do Senhor de 67 anos que vive numa mansão em Santa Cruz na linha da praia. Não me interessa…, procuro que se sintam o melhor possível dentro daquilo que lhes podemos dar para que recuperem de novo a sua saúde e voltem para o seu “lugar”, o lugar onde realmente é o seu lar… Claro que tenho em conta o seu nível de cultura geral, pois não irei falar da mesma forma como falo com o Sr. António que é pastor como falarei com o Sr. João que é advogado. E sei da importância de tudo o que rodeia a pessoa de quem cuido… pois é o seu mundo…

Contudo…, houve uma pessoa que me marcou,

Posso dizer que é de um nível de estrato social alto… e com uma cultura geral acima da média, professor doutor e já com direito a destaque pelo presidente da república… Posso dizer que, não sei se devido à minha ignorância ou não, não tinha noção da sua importância e contributo para nós… Mas, também não foi a partir do momento que tive essa noção que mudei o meu tipo de cuidados para com ele. Posso dizer que já faleceu, falo dele no presente pelas obras que nos deixou e sendo assim, ainda se encontra entre nós…

Existe uma situação que me acorre constantemente à minha memória…

Este senhor de quem falo, já não se encontrava nas suas faculdades mentais todas, pela sua idade e doença que o consumiam… O seu discurso por momentos deixava de ser coerente tal como as suas atitudes, o que por vezes para nós enfermeiros exige algum tipo de habilidade para chamá-los à “razão” ou ao nosso tempo e espaço…
Num dia, num dos meus turnos, como meu doente “atribuído” levei-o ao duche…
Com a minha ajuda, pôde tomar banho, pois tinha alguma dificuldade e cansaço em mobilizar-se… Naquele… dia… enquanto o olhava e ajudava-o a tomar banho… a fazer a sua higiene pessoal, pensava para comigo…

“Que sentimentos vão dentro desta pessoa de quem cuido?
Uma jovem como eu…, a ajudar, a cuidar de uma pessoa com a sua importância, nível de cultura tão elevado, a sua experiência de vida tão rica, tão viajado… já congratulado a nível nacional… e eu? Que significado terei junto de si?...”

Senti que o queria proteger mais ainda, do que já estava a fazer, proteger a sua dignidade…, vê-lo despido reduzido ao seu corpo e com muitas dificuldades em cuidar de si sozinho… Chocava-me por dentro…

Não que as outras pessoas de quem cuidei e cuido, não tenham a mesma importância… Não… Mas senti-me “pequena” junto dele, “esmagada”, junto de uma vida tão rica e eu ainda com tanto para viver. Contudo tinha ali o meu verdadeiro e importante papel junto dele, tinha a capacidade de o proteger, de proteger a sua dignidade humana… de o ajudar a recuperar qualidade de vida e posso dizer que o consegui… ou não seria eu enfermeira.

Penso que o abismo entre os seus conhecimentos e o seu papel tão importante na história contrastavam com a sua condição física reduzida… E eu?... Sei que não o poderia fazer viver para sempre, então cuidei dele como melhor consegui e que tento todos os dias fazer dentro das condicionantes que nos rodeiam…

E sei que apesar de tudo se mantém vivo com o que nos deixou…

Cada vez que olho para o seu livro que me deu de presente… Agradeço por me fazer pensar que apesar de jovem, tenha o meu verdadeiro papel junto de pessoas assim como você…

Obrigada**

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Como descrever?...

Como posso descrever?
Sinto as pernas carregadas, os músculos tensos, ainda a latejar… os olhos pesados e com fundo avermelhado, paro o carro e olho-me no espelho retrovisor, que cansaço esbatido no rosto. Após quatro noites de trabalho…, sinto o corpo quase a quebrar…

Desligo o carro e abro a porta, o frio cortante de hoje trespassa-me o rosto…, entra-me pelo casaco ainda desabotoado, sem pedir licença e consegue alcançar a minha pele, mesmo com as camisolas que trago vestidas. Faz-me arrepiar cada parte do meu corpo fatigado, faz-me sentir viva… . Abotoo-o e aconchego-me bem, enquanto dou os pequenos passos que são necessários até à porta do meu prédio…

Mas hoje há um cheiro familiar no ar… inspiro profundamente, sinto o ar frio da manhã de inverno a percorrer os pulmões e a fazer-me lembrar de cada parte do meu corpo que estava adormecido pelo cansaço e pelo calor do carro onde conduzi. Hoje existe o aroma de uma noite fria, com alguma humidade no ar…, apesar do céu azul que se desenha agora de manhã.

Como posso descrever?... Inspiro novamente….
Sabe bem o ar frio que me enche os pulmões e o vento gelado que corta o meu rosto, é engraçado, como o cheiro me é familiar, faz-me sentir simplesmente bem… Lembra-me o inverno frio, lembra-me aquelas manhãs frias em que somos crianças e ficamos em casa a ver os desenhos animados na televisão aos domingos de manhã, logo pelas 7horas, lembra-me sair de mão dada com os meus pais já depois de almoço e sentir este frio de agora igual, lembra-me… Simplesmente não consigo descrever…, recordo-me o levantar da cama sentir o frio a trespassar o meu pijama e correr para cozinha e pedir o leite com chocolate à minha mãe, ver ela a prepara-lo do sofá e bebê-lo quentinho na sua companhia… enquanto ela faz um bolo por ser domingo…

Meto a chave na fechadura do prédio…, sinto-me bem…, sinto-me viva… sinto-me com vontade de viver cada momento e cada pormenor que nos rodeia… Apesar do cansaço esbatido no rosto, tenho sede de viver… mas hoje subo as escadas chego a casa e adormeço profundamente enquanto a maioria das pessoas trabalha…
Vivo enquanto durmo, sonho… renovo-me para o que aí vem…**